CALL FOR PAPERS | ESC | Mobilidade Transatlântica na Nova Geopolítica do Conhecimento: (Inter)Dependências na Educação Superior Brasil/Portugal

CALL FOR PAPERS

Número especial da Educação, Sociedade & Culturas

Mobilidade Transatlântica na Nova Geopolítica do Conhecimento: (Inter)Dependências na Educação Superior Brasil/Portugal

Resumos alargados (até 700 palavras, excluindo referências bibliográficas) até ao dia 30 de junho de 2024


Organizadores/as convidados/as

Prof. Dr. Marcelo Parreira do Amaral, Universidade de Münster, Alemanha

Profa. Dra. Wivian Weller, Universidade de Brasília, Brasil

Prof. Dr. Tiago Neves, Universidade do Porto, Portugal


Objetivos e âmbito do número especial 

A mobilidade acadêmica entre Brasil e Portugal sempre foi um tema de interesse de pesquisadores do campo do ensino superior em ambos os lados do Atlântico. Até à fundação das primeiras instituições de educação superior (IES) no Brasil, Portugal permaneceu o principal destino de formação acadêmica superior (Cunha, 2007). No final do século XX, o número de estudantes e membros do corpo docente que realizaram intercâmbio internacional aumentou exponencialmente e ambos os países investiram na promoção e financiamento da mobilidade internacional com o objetivo de oferecer novas experiências e conhecimentos (acordos bilaterais e multilaterais, programas internacionais e convênios institucionais). Mais recentemente, com um foco maior na internacionalização da educação superior, o intercâmbio internacional de estudantes, professores e pesquisadores recebeu ainda mais atenção. Ao mesmo passo que o intercâmbio acadêmico foi promovido como modalidade de estudos com pluralidade de pensamentos, tendências científicas e visões de mundo, contribuindo para a formação de cidadãos e cidadãs com uma perspectiva global, a mobilidade internacional também passou a ser vista como fonte de renda para as IES e como investimento nacional (econômico e soft power diplomacy) (Li, 2018; Hartmann, 2015, 2008).

    Internacionalmente, a pesquisa em educação, e principalmente no campo do ensino superior, tem-se dedicado ao tema, contribuindo com o debate a respeito dessa nova modalidade de intercâmbio internacional de caráter mais econômico e instrumental (Altbach & Knight, 2007; Rizvi 2019, 2013; Robertson et al. 2016). O tema, porém, tem recebido menor atenção a partir de uma perspectiva crítica à comercialização da educação e principalmente de uma perspectiva decolonial/pós-colonial (Mignolo, 2002; Reiter, 2019). Ainda assim, nos últimos anos, a pesquisa comparada sobre educação superior proporcionou discussões profícuas a respeito dessas transformações, cunhando o termo geopolítica do conhecimento (Parreira do Amaral & Thompson, 2022). O termo relaciona duas perspectivas sobre o tema: por um lado, o interesse comercial no ensino superior internacional e, por outro, a necessidade de superação de antigas estruturas e práticas coloniais e de combate de novos tipos de dependência.

     Nova Geopolítica do Conhecimento “refere-se à integração do ensino superior na imaginação e nos cálculos de diferentes agentes com o objetivo de afirmar e/ou melhorar as suas posições na economia global baseada no conhecimento” (Parreira do Amaral, 2022, p. 36) O termo também faz referência a uma discussão do início da década de 1990, na qual vários estudiosos se referiram à ‘geopolítica do conhecimento’ para criticar o que alguns caracterizaram como uma "crítica eurocêntrica da modernidade" (Dussel, 1993; Mignolo, 2002). De acordo com Walter Mignolo, a expansão planetária do capitalismo ocidental também implicou a expansão da epistemologia ocidental (Mignolo, 2002, p. 59) e, eventualmente, das ciências sociais. A partir desta ótica, torna-se necessário examinar se e como estruturas de intercâmbio internacional na educação superior podem estar mantendo e/ou criando novas estruturas e práticas coloniais.

    Devido aos vínculos históricos que marcam a formação sociocultural de ambos os países, a mobilidade transatlântica entre Brasil e Portugal nos oferece uma oportunidade de compreender de forma expressiva as heranças e os atuais desafios da educação superior tomando como referência a nova geopolítica do conhecimento. A partir de uma perspectiva comparada e internacional, o número especial se propõe a discutir analítica e empiricamente a mobilidade transatlântica e o intercâmbio acadêmico entre Brasil e Portugal abordando, entre outros, os seguintes focos temáticos:

  1. Relações e confrontos epistemológicos e políticos: Identificam-se e discutem-se a natureza e o caráter dos planos curriculares dos programas de pós-graduação, posicionamentos epistemológicos, relações interpessoais em ambos os países. Qual é a contribuição destes elementos para a superação e/ou reprodução de estruturais (neo)coloniais, de injustiça e violência simbólica e material? Quais formas, discursos e/ou práticas performativas (entre outras) são encontradas?

  2. Estruturas e Ações conjuntas de Mobilidade entre Brasil e Portugal: Este foco examina as estruturas e modalidades de intercâmbio abertas aos diferentes grupos (doutorandas, pós doutorandas, docentes); as experiências e racionalidades de intercambistas, corpo docente, e responsáveis pelas estruturas institucionais de internacionalização de algumas universidades;

  3. Mobilidade Transatlântica em Doutorados, Teses e Temas: Aqui analisa-se a mobilidade transatlântica a partir de seus resultados, isto é, das teses e dos temas nas pesquisas de doutoramento. O que sabemos sobre os resultados (conclusão, dropout, etc.)? Quais as perspetivas teóricas adotadas nas teses de conclusão de cursos de pós-graduação em educação? Quais os temas?


Datas importantes

●    Submissão de resumos (até 700 palavras, excluindo referências): 30 de junho de 2024

●    Notificação dos resumos selecionados: 31 de julho de 2024

●    Submissão do manuscrito completo (até 7000 palavras): 30 de novembro de 2024

●    Publicação: 2025 


Instruções para submissão

Os autores interessados devem submeter seus resumos estendidos (até 700 palavras, excluindo referências) até 15 de março de 2024. Seguindo as políticas da Revista ES&C, os autores podem submeter seus textos em inglês, francês, espanhol ou português. A contribuição deve ser original, inédita e não pode estar sob revisão ou submetida para publicação em outro periódico. 

Os resumos deverão ser enviados para esc@fpce.up.pt com cópia para o coeditor convidado Marcelo Parreira do Amaral (parreira@uni-muenster.de). 


Sobre a revista ESC

ESC é uma revista de acesso aberto, revisada por pares, publicada três vezes por ano pelo Centro de Investigação e Intervenção na Educação (CIIE) da Universidade do Porto, Portugal.

Buscando estabelecer e ampliar o diálogo entre culturas e perspectivas interdisciplinares e contribuir para qualificar o debate público em torno dos problemas educacionais e sociais, a ESC acolhe submissões de trabalhos originais baseados em pesquisas empiricamente fundamentadas e apoiados em um forte componente teórico-metodológico.

A publicação nesta revista é totalmente gratuita para os autores, e não há custos ou taxas de submissão, processamento ou publicação.

Uma visão geral da revista pode ser acessada em https://ojs.up.pt/index.php/esc-ciie.

Para mais informações sobre este número especial, entre em contato com o coeditor convidado Marcelo Parreira do Amaral (parreira@uni-muenster.de).


Sobre os/a Organizadores/a Convidados/a

Marcelo Parreira do Amaral é professor de Educação Internacional e Comparada da Universidade de Münster, Alemanha e Professor Visitante da Universidade de Turku, Finlândia. Seus principais interesses de pesquisa incluem educação internacional comparada, educação superior comparada, política educacional, governança educacional internacional e suas implicações para trajetórias educacionais, em particular questões de acesso e equidade na educação. Últimas Publicações: “Geopolitical Transformations in Higher Education. Imagining, Fabricating and Contesting Innovation.” Edited volume with Christiane Thompson. Educational Governance Research Series (Springer International, 2022) “The Education Systems of the Americas”. Edited Handbook with Sieglinde Jornitz (Springer International, Global Education Systems Series, 2021). Zelinka, J. Parreira do Amaral, M. Benasso, S. König, J. 2023. Citizenship in Times of Crises – Crisis of Citizenship? De Europa European and Global Studies Journal 6(2): 17–40. doi: 10.13135/2611-853X/7134.

Wivian Weller é Professora Titular de Sociologia da Educação da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília – UnB (Brasil) e bolsista Produtividade em Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq. Seus estudos e pesquisas concentram-se nos seguintes temas: Estudos comparados sobre o ensino médio e seus exames; Orientações educativas e projetos de vida de jovens em contextos diversos; Sociologia do Conhecimento e Metodologias Qualitativas, com ênfase no Método Documentário. Publicações recentes (seleção): Severo, R., Weller, W. Socialização política de jovens no ensino médio (Revista Cocar, 2023); Weller, W., Evangelista, J. R. Student mobility of college students from former public high schools: experiences within the Science without Borders Program (Pro-Posições, 2022); Weller, W. Enem e Gaokao: repercussões no ensino médio e na educação superior (Em Aberto, 2021 - organização de dossiê).

Tiago Neves é Professor Associado na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto e investigador no CIIE – Centro de Investigação e Intervenção Educativas. Os seus principais interesses de pesquisa são as diferentes manifestações da relação entre desigualdades socioeconómicas e desigualdades educativas, designadamente o acesso ao ensino superior e a eficácia de programas de educação compensatória. Recentemente co-editou, com Sebastiano Benasso, Dejana Bouillet e Marcelo Parreira do Amaral o livro “Landscapes of Lifelong Learning Policies across Europe – Comparative Case Studies”, publicado em 2022 pela Palgrave Macmillan. Tem artigos publicados em revistas como YOUNG, Thinking Skills and Creativity, International Journal of Lifelong Education, Current Sociology, The Qualitative Report e International Studies in the Sociology of Education.


Referências bibliográficas

Altbach, Philip G., & Knight, Jane (2007). The internationalization of higher education: Motivations and realities. Journal of Studies in International Education, 11(3-4), 290–305. https://doi.org/10.1177/1028315307303542 

Cunha, Luiz Antônio (2007). A universidade temporã: O ensino superior, da Colônia à Era Vargas (3.ª ed.). UNESP.

Dussel, Enrique (1993). Eurocentrism and modernity (Introduction to the Frankfurt lectures). Boundary 2, 20(3), 65–76. https://doi.org/10.2307/303341 

Hartmann, Eva (2008). Bologna goes global: A new imperialism in the making? Globalisation, Societies and Education, 6(3), 207–220. https://doi.org/10.1080/14767720802343308 

Li, Jian (2018). Conceptualizing soft power of higher education: Globalization and universities in China and the world. Springer Nature Singapore.

Marginson, Simon (2018, July 19). The UK in the global student market: Second place for how much longer? Centre for Global Higher Education. https://www.researchcghe.org/publications/research-findings/the-uk-in-the-global-student-market-second-place-for-how-much-longer/ 

Mignolo, Walter D. (2002). The geopolitics of knowledge and the colonial difference. The South Atlantic Quarterly, 101(1), 57–96. 

Parreira do Amaral, Marcelo (2022). Imagining and transforming higher education: Knowledge production in the new geopolitics of knowledge. In Marcelo Parreira do Amaral & Christiane Thompson (Eds.), Geopolitical transformations in higher education: Imagining, constructing and contesting innovation (pp. 35–51). Springer International.

Parreira do Amaral, Marcelo, & Thompson, Christiane (Eds.). (2022). Geopolitical transformations in higher education: Imagining, constructing and contesting innovation. Springer International.

Reiter, Bernd (Ed.). (2019). Constructing the pluriverse: The geopolitics of knowledge. Duke University Press.

Rizvi, Fazal (2013). Equity and marketisation: A brief commentary. Discourse: Studies in the Cultural Politics of Education, 34(2), 274-278. https://doi.org/10.1080/01596306.2013.770252  

Rizvi, Fazal (2019, October 12). Marketisation weakens the public diplomacy role of HE. University World News. https://www.universityworldnews.com/post.php?story=20191008095311915 

Robertson, Susan L., Olds, Kris, Dale, Roger, & Anh Dang, Que (Eds.). (2016). Global regionalisms and higher education: Projects, processes, politics. Edward Elgar.

ESC2024_CfP_2_pt.pdf

ESC2025_CfP_2_en.pdf