01-10-2024
30-09-2026
Subsistem em Portugal severas limitações em termos de um conhecimento sistemático, atualizado e aprofundado sobre as condições e quadro de vida das pessoas ciganas/Roma em Portugal, o que constitui um obstáculo à monitorização ao nível do impacto e efetiva eficácia das políticas públicas e sobre os processos de integração desta população. Este estudo procura superar estas lacunas, comprometendo-se a recolher e disponibilizar dados diversos, sólidos e desagregados provindos de uma diversidade de fontes de informação e resultantes da mobilização de uma estratégia marcada pelo pluralismo metodológico.
Neste contexto de análise, esta pesquisa irá mobilizar uma estratégia multi-métodos, intersetando abordagens qualitativas, quantitativas e participativas. Além de dados quantitativos obtidos por meio de dois inquéritos por questionário, abordando áreas estratégicas como saúde, emprego, educação, habitação, formação profissional, desigualdade de género, discriminação e anticiganismo, utilizaremos dados de natureza mais qualitativa.
Esses incluem informações provenientes de entrevistas em profundidade (retratos sociológicos), etnografias realizadas em diversos contextos sócio-habitacionais, análise de fontes históricas e métodos participativos. Desde a conceção até à implementação, monitorização e publicação deste estudo, promoveremos ativamente a participação ativa de pessoas e coletivos de origem cigana, tornando-os protagonistas no processo de construção social do conhecimento sobre si próprios. Busca-se implementar uma estratégia de co-produção coletiva de conhecimento e mais inclusiva, uma pesquisa “com” os Ciganos/Roma e não “sobre e para” eles (Ryder, 2018). Neste processo, procura-se envolver organizações e grupos informais ciganos, bem como outras instituições que atuem próximas a essa comunidade, em várias escalas (local, regional e nacional). O objetivo é produzir recomendações em termos de políticas públicas que combatam de forma eficiente e efetiva os diferentes níveis e formas de desigualdade e discriminação (negativa). Continuam a faltar estudos e dados históricos sobre a posição, a presença, os contributos e as relações das pessoas ciganas com as sociedades de acolhimento ao longo do tempo, assim como sobre os ciganos pertencentes a classes mais elevadas. Invariavelmente, os estudos tendem a centrar-se sobre as pessoas e famílias que vivem em situações de maior vulnerabilidade sócio-económica, acresce que os estereótipos sobre os Ciganos tendem a ocultar as elites e aqueles que pertencem a uma classe média, por vezes chamados de Ciganos invisíveis (Ruegg e Boscoboinik 2009; Magano, 2014). Importa deshomogeneizar e deixar de lado perspetivas reificadoras e homogeneizadoras que não permitem apreender e compreender a heterogeneidade cultural e diferentes formas de inserção social e espacial (Mendes, 2007; Lopes, 2008; Magano, 2010; Nicolau, 2011; Sousa, 2013; Silva, 2015).
Esta pesquisa tem como intenção desocultar e analisar esta diversidade e heterogeneidade cultural, étnica, social, económica, simbólica, geográfica das pessoas e coletivos de origem cigana em Portugal, e adotar uma perspetiva interseccional que intersecte e interrelacione vários fatores que estão na origem de mecanismos de produção e reprodução de desigualdades sociais, numa perspetiva multidimensional e multinível. Continua a haver um grande desfasamento entre quem desenha as políticas e as implementa e os sujeitos ciganos, objeto dessas políticas, o mesmo sucede nos processos de produção de conhecimento, assim, nesta pesquisa a estratégia teórico-metodológica e epistemológica - investigação com pessoas ciganas-, implica colmatar o fosso entre académicos, ativistas e decisores políticos. Iremos, ainda, privilegiar uma abordagem pluriescalar (micro, meso e macro) que reconheça a interconexão e interdependência de distintos níveis sociais, assim como uma análise interdisciplinar, dada a pluralidade das áreas disciplinares em presença (sociologia, antropologia, história, ciências da educação, psicologia social, entre outros); o pluralismo metodológico que carateriza as abordagens dos investigadores/as (métodos quantitativos, métodos qualitativos, mixed methods, metodologias participativas) e as suas experiências de pesquisa (Romani studies, racismo, politicas públicas, estudos migratórios, desigualdades sociais e urbanas, género, sociologia do direito, saúde pública, etc.). Este projeto tem ainda uma forte componente de transferência de conhecimento, expressa em workshops de devolução e discussão de resultados de pesquisa; policy e social briefs; uma exposição do “Museu da Pessoa” e um podcast sobre história e cultura do povo cigano. Esta pesquisa, enquadra-se, pois numa perspetiva de “sociologia pública” (Burawoy, 2021), visando aplicar os conhecimentos e as perspetivas sociológicas na esfera pública e na resolução de questões sociais concretas.
https://ciencia.iscte-iul.pt/projects/conhecer-mapear-incluirpopulacao-romacigana-em-portugal/2097
Fundação para a Ciência e a Tecnologia
2023.10572.CIG
Instituto de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (IS-UP) Portugal
Centro de Psicologia da Universidade do Porto (CPUP) Portugal
Instituto de Ciências Sociais da Unviersidade do Minho (ICS UMinho) Portugal
ISCTE - Centro de Investigação e Estudos de Sociologia
CIIE/Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP), Portugal