Alternative Publication

02-05-2001


02-05-2004


Em Portugal, como a nível internacional, a questão da territorialização das políticas educativas emergiu na última década como estruturante e consensual. Esse "consenso" oculta visões e práticas muito diversas e contraditórias. A principal clivagem permite contrapor uma lógica gestionária (que tem caracterizado as políticas de reforma) a uma lógica democratizante (característica de processos de inovação, tendencialmente superadores da forma escolar). A relação entre a educação e o local é marcada no primeiro caso por uma lógica de exterioridade e, no segundo, por uma lógica de interpelação. Este projecto propõe-se, produzir intelegibilidade sobre as políticas e práticas de territorialização da acção educativa, ocorridas na última década, em Portugal através da contraposição destes dois tipos de lógicas.

Do ponto de vista empírico privilegiar-se-ão três níveis de análise: um nível macro que incidirá sobre os discursos e as políticas (análise documental), um nível meso que incidirá sobre processos de regulação educativa local (estudos de caso) e um nível micro, através do conhecimento dos pontos de vista dos actores educativos (questionário e abordagens geográficas). Como terrenos de recolha empírica de informação serão previligiados os espaços público ditos "difíceis", por serem considerados analisadores mais pertinentes dos mecanismos de "alienação" (e sua eventual superação) do trabalho escolar que marcam a actual "crise da escola" (mundo rural, bairros urbanos degradados, minorias étnicas). Essa "alienação" comum a alunos e professores, configura uma relação com o trabalho escolar vivido como extrínseco aos sujeitos que não têm contrôle sobre as finalidades, modos de organização e produtos do seu trabalho.

Propondo-se contribuir para recolocar o debate da educação sobre o terreno dos fins e não dos meios, este projecto de investigação articulará a problemática da territorialização educativa com três dimensões essenciais: as mutações no mundo do trabalho que remetem para a problemática da exclusão social, as mutações ao nível do estado que remetem para a crise da articulação entre o sistema educativo e o estado-nação, no quadro da crise mais geral do compromisso entre o capitalismo e a democracia, consubstanciado no Estado Providência, a crise das instâncias de socialização normativa remetem para a problemática da construção da experiência dos actores, a partir da combinação, em contexto, de distintas lógicas de acção.

A inteligibilidade dos processos de territorialização educativa implica situar estes fenómenos no quadro das mutações sofridas, ao longo do século, pela instituição escolar que podem ser sintetizadas numa fórmula breve: passou-se de uma escola de certezas (a escola como "fábrica de cidadãos") para uma escola de promessas (escola de massas) e finalmente para uma escola de incertezas (concomitância do acréscimo de escolarização com a desvalorização dos diplomas e a crescente raridade dos empregos). A passagem das promessas às incertezas configura uma crise da instituição escolar que, no quadro deste projecto, se diagnostica não como uma crise de eficácia, mas sim como uma crise de legitimidade.


Investigadores :


FPCEUP Ariana Maria de Almeida Matos Cosme


FPCEUP Henrique Malheiro Vaz


FPCEUP João Carlos Pereira Caramelo


FPCEUP José Alberto de Azevedo e Vasconcelos Correia


FPCEUP Manuel Santos e Matos MSM


FPCEUP Maria Helena Machado Barbieri Martins Moreira                        


FPCEUP Maria Manuela Martins Alves Terrasêca            


FPCEUP Natércia Alves Pacheco NP        


FPCEUP Stephen Ronaldo Stoer SRS


 


FCT - Fundação para a Ciência e Tecnologia
POCTI/CED/35554/1999


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CIIE | Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto

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