18-02-2025
17-08-2026
Vivemos atualmente numa "sociedade métrica" (Mau, 2019). Nesta "era da medição" (Biesta, 2009), emerge um "regime numerocrático de poder-saber" (Angermüller, 2010) que interpreta, examina e controla a sociedade através de práticas e "dispositivos" (Foucault, 1994) tecnológico-governamentais cada vez mais baseados na medição e na quantificação. Este fenómeno, impulsionado por uma explosão da cultura da auditoria, pela intensificação da recolha, produção e análise de dados numéricos e pelas capacidades transformadoras das tecnologias da informação, abriu caminho a um novo panoptismo, não espacial, multicêntrico e de finalidades múltiplas e abertas (Hamman, 2020). Esta cultura de medição, que está em expansão, tem tido um impacto profundo nas práticas e nos processos educativos: dos rankings aos "terrores da performatividade" que lhes estão associados (Ball, 2003) até ao papel desempenhado pelas Avaliações Internacionais de Grande Escala (ILSAs) na definição das políticas educativas, do currículo e da pedagogia.
Ao questionar as origens, a produção e as implicações dos números na educação, este projeto procura esclarecer os processos e as dinâmicas de poder que os constituem. A relevância do projeto pode ser aferida tanto pela escassez de atenção académica aos fundamentos sociais das estatísticas educativas como pela necessidade de uma compreensão mais profunda da forma como estes números são gerados e utilizados nas instituições e políticas educativas. Assim, perguntamos aos números: como foram produzidos? Como é que se chegou a esses números (e não a outros)? Em última análise, pergunta-se: como é que as estatísticas e a sociedade se constituem mutuamente? Assim, este projeto de investigação aborda uma questão fundamental, mas pouco estudada e frequentemente negligenciada: a construção social das estatísticas da educação.
De entre a abundância de estatísticas educativas disponíveis, foram seleccionados dois indicadores-chave ("taxa de abandono e de retenção" e "inflação de notas") com base na sua relevância concetual e social e nos conhecimentos e compromissos da equipa de investigação. A "taxa de abandono e de retenção" é fundamental para a monitorização do desempenho educativo, o desenvolvimento de políticas e a respectiva avaliação. Por sua vez, o indicador "inflação das notas" é decisivo para a avaliação da equidade educativa e das perspectivas de futuro dos estudantes.
Centrado nestes dois indicadores, o projeto desenvolve-se em duas fases sequenciais, que correspondem aos seus dois marcos (milestones): "Enquadrar o panorama da investigação" e "Desvendar a dinâmica da construção social das estatísticas da educação". O principal objetivo da primeira fase é fornecer um enquadramento, em três camadas, do campo de investigação: 1) um mapeamento conceptual; 2) uma identificação da situação passada (10 anos) e atual em termos dos indicadores estatísticos relevantes; 3) uma análise, baseada em entrevistas, das narrativas dos formadores de opinião em educação que atuam quer nos meios de comunicação tradicionais (jornais) quer nos novos meios de comunicação (blogues) e que abordam os temas e indicadores estatísticos relevantes para esta pesquisa. Por sua vez, principal objetivo da segunda fase é, com base em entrevistas, identificar e analisar as percepções e os entendimentos dos vários intervenientes envolvidos na produção e divulgação das estatísticas da educação, desde os professores e directores de escolas até às agências nacionais de educação e estatística. Espera-se que esta segunda fase evidencie as dinâmicas e tensões subjacentes à construção social da taxa de 'abandono e retenção escolar' e do indicador 'inflação de notas'.
Ao desafiar a narrativa prevalecente dos números como instrumentos neutros e puramente descritivos e, em vez disso, realçar a sua natureza socialmente construída e o seu papel decisivo na formação das realidades educativas, este estudo procura fazer avançar tanto o conhecimento académico como as práticas de governação. Além disso, ao examinar tanto as operações metodológicas como as dinâmicas organizacionais subjacentes à produção de estatísticas, o projeto acrescenta uma camada de análise crítica aos debates sobre o papel dos números na educação. Espera-se que o objetivo ambicioso de expandir o conhecimento para além do estado da arte envolva a exploração, entre outros, de temas como o papel das estatísticas oficiais, as dinâmicas de poder na definição de 'regimes de números', a in(ter)dependência institucional na produção de estatísticas, as metodologias de recolha e reporte de dados educacionais, a responsabilização e a transparência, e a manipulação do sistema.
Ao questionar as origens, a produção e as implicações dos números na educação, este projeto procura esclarecer os processos e as dinâmicas de poder que os constituem. A relevância do projeto pode ser aferida tanto pela escassez de atenção académica aos fundamentos sociais das estatísticas educativas como pela necessidade de uma compreensão mais profunda da forma como estes números são gerados e utilizados nas instituições e políticas educativas. Assim, perguntamos aos números: como foram produzidos? Como é que se chegou a esses números (e não a outros)? Em última análise, pergunta-se: como é que as estatísticas e a sociedade se constituem mutuamente? Assim, este projeto de investigação aborda uma questão fundamental, mas pouco estudada e frequentemente negligenciada: a construção social das estatísticas da educação.
De entre a abundância de estatísticas educativas disponíveis, foram seleccionados dois indicadores-chave ("taxa de abandono e de retenção" e "inflação de notas") com base na sua relevância concetual e social e nos conhecimentos e compromissos da equipa de investigação. A "taxa de abandono e de retenção" é fundamental para a monitorização do desempenho educativo, o desenvolvimento de políticas e a respectiva avaliação. Por sua vez, o indicador "inflação das notas" é decisivo para a avaliação da equidade educativa e das perspectivas de futuro dos estudantes.
Centrado nestes dois indicadores, o projeto desenvolve-se em duas fases sequenciais, que correspondem aos seus dois marcos (milestones): "Enquadrar o panorama da investigação" e "Desvendar a dinâmica da construção social das estatísticas da educação". O principal objetivo da primeira fase é fornecer um enquadramento, em três camadas, do campo de investigação: 1) um mapeamento conceptual; 2) uma identificação da situação passada (10 anos) e atual em termos dos indicadores estatísticos relevantes; 3) uma análise, baseada em entrevistas, das narrativas dos formadores de opinião em educação que atuam quer nos meios de comunicação tradicionais (jornais) quer nos novos meios de comunicação (blogues) e que abordam os temas e indicadores estatísticos relevantes para esta pesquisa. Por sua vez, principal objetivo da segunda fase é, com base em entrevistas, identificar e analisar as percepções e os entendimentos dos vários intervenientes envolvidos na produção e divulgação das estatísticas da educação, desde os professores e directores de escolas até às agências nacionais de educação e estatística. Espera-se que esta segunda fase evidencie as dinâmicas e tensões subjacentes à construção social da taxa de 'abandono e retenção escolar' e do indicador 'inflação de notas'.
Ao desafiar a narrativa prevalecente dos números como instrumentos neutros e puramente descritivos e, em vez disso, realçar a sua natureza socialmente construída e o seu papel decisivo na formação das realidades educativas, este estudo procura fazer avançar tanto o conhecimento académico como as práticas de governação. Além disso, ao examinar tanto as operações metodológicas como as dinâmicas organizacionais subjacentes à produção de estatísticas, o projeto acrescenta uma camada de análise crítica aos debates sobre o papel dos números na educação. Espera-se que o objetivo ambicioso de expandir o conhecimento para além do estado da arte envolva a exploração, entre outros, de temas como o papel das estatísticas oficiais, as dinâmicas de poder na definição de 'regimes de números', a in(ter)dependência institucional na produção de estatísticas, as metodologias de recolha e reporte de dados educacionais, a responsabilização e a transparência, e a manipulação do sistema.
PCEP - Participação, Comunidades e Educação Política
FCT - Fundação para a Ciência e a Tecnologia
(2023.14129.PEX)
CIIE/Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP), Portugal